No último 9 de dezembro, mais de mil pessoas se reuniram no Centro Nacional da Constituição na Filadélfia para apoiar Mumia Abu-Jamal, apesar da intimidação de centenas de policiais que gritaram frases de ódio na rua. Em uma chamada telefônica, Mumia disse: “Pela primeira vez em quase 30 anos não estou fisicamente entre os condenados à morte, estou em outro setor chamado Bloco AC. As celas são idênticas as do corredor da morte, mas ninguém deste setor está condenado à morte, dentre eles, eu mesmo. É algo que se tem de acostumar, ainda estou me aclimatando”.
Em relação a sua reação ante ao fato de que sua condenação à morte se converteu em prisão perpétua, ele respondeu: “Devo admitir que me sinto um pouco surpreso porque estava esperando a audiência, me refiro a uma audiência de sentença. Apesar de que muitos de meus amigos e simpatizantes e inclusive meus advogados diziam que era muito provável que não houvesse audiência, eu acreditava que sim. E segui me sentindo assim até que ouvi a notícia. Nestes dias estarei falando com meus advogados e avaliaremos exatamente este tipo de coisa. Sinto um pouco de decepção devido ao fato de que não haverá audiência, já que acreditávamos que poderíamos conseguir algumas coisas durante esta audiência e travar uma boa batalha, mas teremos que batalhar de outras formas. Quero agradecer a todos os que tem nos apoiado durante tantos anos”.
O orador principal do evento na Filadélfia foi Cornell West, que falou da visão e compromisso social de Mumia, “um homem negro livre no corredor da morte”, cujo espírito não foi derrotado em 30 anos… Um homem que se atreve a dizer a verdade sobre o implacável legado da supremacia branca… Um homem que não se rendeu e não se vendeu, como muitos outros fizeram, um homem com uma visão holística e um compromisso fixo com os pobres e deserdados da terra, um homem que se nega a ser “niggerizado”, ou seja, tornar-se o tipo de pessoa que “ri quando não há nada engraçado e se coça onde não há coceira,… Se nega a tornar-se o tipo de pessoa que fique aterrorizada, traumatizada e estigmatizada”. Por outro lado, Mumia é um exemplo de “amor revolucionário, valor revolucionário e gozo revolucionário”, que sob ameaça de morte segue dizendo a verdade a uma geração submetida a “armas de distração massiva”.
Em uma mensagem de vídeo, Desmons Tutu disse que na África do Sul houve uma sensação de alívio ao receber a notícia de uma pequena concessão no caso de Mumia Abu-Jamal quando a Suprema Corte deu parecer de que ele nunca deveria estar sentenciado à morte. Mas afirma que o veredito de culpado também é totalmente inaceitável devido ao preconceito racial e a má conduta da promotoria durante décadas, e que a imposição da sentença de prisão perpétua é simplesmente outra forma de morte. Tutu disse que por fim peritos tão destacados como o Relator Especial da ONU, Juan Méndez, reconheceram como uma forma de tortura as condições de isolamento a que Mumia esteve submetido durante 30 anos. Disse que devido às massivas injustiças cometidas contra ele, o caso deve ser descartado e Mumia deve sair livre imediatamente.
Ao tomar a palavra no ato, Ramona África disse que quando Seth Williams anunciou na quarta-feira que não iria continuar buscando a pena de morte para Mumia, a seu lado esteve Maureen Faulkner. “Entendemos exatamente o que acontece aqui… Hoje mesmo eles odeiam Mumia ainda mais do que odiaram há 30 anos. Estão furiosos pelo apoio internacional que tem, estão furiosos pelo movimento constante que o apóia, estão furiosos porque um homem negro diz a verdade em oposição às mentiras deste sistema… Sabem que não podem ganhar em uma nova audiência… Mas isto não significa que abandonaram seus planos para assassinar Mumia… Há que se perguntar: por que estão tão desesperados, tão inflexíveis em seu afã de matá-lo? Não podem dizer o nome de alguém condenado pelo assassinato de um policial há seis meses, há um ano, há três anos. Não sabem seus nomes. Mas sabem o nome de Mumia Abu-Jamal. Por que estão tão cheios de ódio por Mumia? Por que não se sentem iguais com relação ao homem acusado de matar seu presidente John F. Kennedy…? Ou os assassinos de crianças? Mumia é nosso irmão e estamos muito preocupados por sua vida. Nunca deixaremos de lutar por ele… Nunca deixaremos de lutar contra este sistema podre. Queremos colocar fim a este tipo de injustiça. Vamos levar nosso irmão para casa e vamos lutar para derrubar este sistema… Da mesma maneira que eles estão resolutos em acabar com Mumia e com nós, nós temos que estar duas vezes, três vezes, dez vezes mais resolutos a fazer o justo e o correto”.
O advogado de defesa Michael Coard afirmou que o sistema que tenta assassinar Mumia Abu-Jamal é o mesmo sistema que encarcera crianças e adolescentes durante períodos mais longos do que qualquer outro estado em qualquer país do planeta, e inclusive há crianças de 14 anos de idade sentenciadas a prisão perpétua. Ao criticar a pena de morte, Coard perguntou: “Se apoiamos a prática de contratar pessoal para assassinar os assassinos, por que não contratar pessoas para roubar os ladrões, para seqüestrar os seqüestradores, para estuprar os estupradores? Vocês poderiam dizer: Isto é obsceno! Isto é escandaloso! É o meu ponto”. A respeito do veredicto de culpabilidade, Coard afirma que Mumia é legalmente não culpável e factualmente inocente.
Para ver fotos e vídeos do evento celebrado em apoio a Mumia no Centro Nacional da Constituição em 9 de dezembro, incluindo mensagens de Cornell West, Desmond Tutu, Amiri Baraka, Ramona África, Michael Coard, Immortal Technique, Goldii, acessem este site:
Dois vídeos da deslumbrante performance dos jovens artivistas da Impact Repertory Theater no Centro Nacional da Constituição em 9 de dezembro:
Tradução > Marina Knup
agência de notícias anarquistas-ana
Flor declarada
o vento puxa da mão
pra se perfumar.
Masatoshi Shiraishi