A repressão que causou sua morte, voltou às ruas do centro de Bogotá neste 1˚ Maio de 2011, e quem desejou lembrá-lo nas palavras e nos gestos saboreamos o aroma de gás lacrimogêneo, a dureza dos espancamentos e detenções arbitrárias (como foi o caso do seu pai).

Seis anos já, o tempo passa, as feridas não cicatrizam, e me pergunto: por que têm que cicatrizar? Se em uma situação como esta, a única coisa que nos oferece é a morte e a repressão para aqueles que querem defender a idéia de uma sociedade mais justa – talvez devêssemos por um curativo, esquecer e não deixar que brote a necessidade de lutar. Aqueles que te mataram querem que voltemos para casa, que trabalhemos sem parar, que procuremos ter uma vida ostentosa, que nos esqueçamos o sonho da revolução social e que só apareça como um fantasma para falar sobre o nosso passado, o que fomos e já não somos. Mas não daremos essa satisfação, vamos continuar em pé de guerra e nunca dar a outra face.

Seis anos se passaram e a memória não esquece; lambendo suas feridas, lembramos de sua morte, a morte de tantos outros; lembrando do desamparo, o medo, mas também recordando a paixão pela justiça, a necessidade de mudar a sociedade.

Não te santifico como um mártir, lembro como quem caiu pela irracionalidade deste modelo, a irracionalidade dos policiais que o espancaram, compreendo não como um fenômeno isolado, mas como a epiderme do estado atual das coisas. A você mataram a bofetadas e patadas, alguns às balas, a outros matam trabalhando alienados em escritórios, muitos são afundados na miséria, outros foram mortos em vida.

Ontem, como hoje, como amanhã e como sempre, eu vou te levar para as profundezas da minha alma libertária, lembrando e relembrando o que fizeram com você… um crime de Estado.

Com amor para você, para os seus e para aqueles que lutam.

Atarka Rebel.

Sexta-feira, 6 de maio de 2011, a seis anos de seu assassinato covarde.

PS: Esta pequena carta terminou de ser escrita quando acontecia uma concentração na Rua 7 com 18  pelo sexto aniversário da morte de Nicolás.

Nota da “ANA“:

Nicolás David Neira, de 15 anos, foi brutalmente assassinado pela Polícia Nacional Colombiana, o Escuadrón Móvel Anti-disturbios (Esmad) no 1º de maio de 2005. Nicolás participava do bloco anarquista durante uma marcha em comemoração ao Dia do Trabalho em Bogotá, quando a manifestação foi alvo de uma violenta repressão policial, com bombas de gás lacrimogêneo, tiros de balas de borracha e golpes de cassetetes. Nicolás, asmático, sem poder correr, recebeu uma avalanche de golpes na cabeça e caiu inconsciente. Os cassetetes provocaram em Nicolás traumatismo craniano, fraturas múltiplas e edema cerebral.
agência de notícias anarquistas-ana
calor na nuca
sol lá fora me faz
sombra dentro
Alexander Pasqual