[As autoridades detiveram mais de 200 pessoas na seqüência dos protestos do “26M” (26 de março) em Londres contra as medidas de austeridade apresentadas pelo governo. A manifestação contou com a presença de mais de 500 mil pessoas, num desfile pelas ruas da capital que culminou com um comício em Hyde Park. Peter Wright, da organização South London Solidarity Federation, participou da manifestação e nos fala a seguir sobre a situação dos detidos.]
Agência de Notícias Anarquistas > Ainda tem ativistas presos pelos protestos do “26M”?
Peter Wright < No mesmo dia 26, a polícia prendeu cerca de 202 pessoas, 138 das quais sendo da ocupação “pacífica” (palavras da polícia) do Fortnum & Mason, o mercado de comida burguês e real. Outros 50 (aproximadamente) foram presos na tentativa de ocupar a Trafalgar Square (talvez a principal praça da cidade, onde se encontra a Coluna de Nelson) pela noite. Parece que a polícia estava com muita raiva depois de todos os fatos do dia, pelos quais os manifestantes foram atacados com grande violência.
Ultimamente, ou seja, durante as manifestações estudantis no final do ano passado, a polícia veio com fotos de pessoas procuradas e seguiu com as detenções de ativistas, entrando em suas casas e tal. Até agora, após o dia 26, há cerca de 18 fotos, nada mais, mas sabemos que as investigações continuam. Após a revolta estudantil, disse o Met (a polícia londrina), que 18 policiais se dedicariam a ver TODOS os vídeos do Youtube para identificar os suspeitos.
ANA > E quais acusações pesam contra eles?
Peter < São poucas as acusações, mas a grande maioria – especialmente aqueles do UK Uncut – pode ter certeza que nunca receberão acusações. As propostas das prisões são claras: para retirar essas pessoas das ruas durante os distúrbios e também gravar seus nomes, fotos, DNA, etc., em suas bases de dados. Assim, essas pessoas serão conhecidas pelas forças de segurança.
ANA > Entre estes presos há militantes anarquistas, mulheres…
Peter < Claro, há ambos! O UK Uncut conta com alguns “anarquistas” entre seus membros, mas que sofre de um tipo de liberalismo e pacifismo em vigor a partir das classes média e alta. Eu não saberia dizer o número de mulheres presas: é claro que havia, mas não de forma distinta na contagem.  
ANA > E o que podemos fazer a distância para ajudá-los?
Peter < Estender a luta e a resistência!
A sério, ainda não sei bem o que vai acontecer. Os detidos têm direito à fiança e devem retornar às delegacias em maio. Logo se saberá se eles vão a julgamento.
ANA > E essas pessoas correm o risco de pegar longos anos de prisão?
Peter < Sim, alguns. Podemos dizer que durante os distúrbios de novembro passado em Millbank, quando universitários ocuparam a sede do partido governante, um estudante – em um momento de loucura – jogou um extintor de incêndio do telhado do prédio. Isso é o que a mídia procurava para excluir e atacar os universitários radicais. Houve uma caça às bruxas, até que o pobre jovem – 17 anos – foi até a delegacia para confessar. Eles fizeram o julgamento de imediato e foi para a cadeia por dois anos, apesar das intervenções de sua mãe e suas desculpas públicas.
Outro ponto particular sobre a questão do “black bloc”. Queremos estender a resistência até que ele seja um movimento popular. As pessoas que fazem ataques espetaculares contra os bancos e os símbolos de riqueza correm alto risco, e, afinal de contas, não alcançam muito. Aceitamos o que são essas ações que atraem as atenções da mídia, mas nós queremos ganhar a batalha contra os cortes, de modo que buscamos a popularização nas comunidades e postos de trabalho. Acreditamos que para alcançar este objetivo, temos de nos concentrar na luta diária e específica sobre os cortes de benefícios sociais, o fechamento de edifícios públicos, renúncias, etc., etc.
Nós tentamos usar o interesse no anarquismo, gerado pelas ações do bloco negro, para promover as nossas idéias e estratégias, e por esta razão que eu te escrevo.
agência de notícias anarquistas-ana
vento de esquina
arrepia a menina
e a poça d’água
João Angelo Salvadori